Conheça a história

Ramiro Guedes: Conheça a história da lenda do rádio de Teixeira

13/02/2022 - 17h45Por: Fato Verdade

Teixeira de Freitas, cidade princesa do extremo sul baiano, desde seus primeiros tempos, quando ainda era chamada de povoado de São José do Rio Itanhém, sempre experimentou a chegada ilustre de gente estrela dos vários cantos do Brasil e do mundo, pessoas valiosas que, aos poucos, e com avidêz, têm feito, até nossos dias, um céu iluminado, escancarado de luzes ilustres que sempre a fizeram um recanto amado e amável aos que por aqui passam, chegam e se achegam. Nesse contigente constelar, entre os muitos astros que por aqui vieram brilhar, Ramiro Guedes é um, com plural virtudes e capacidades, capaz, em sua inteireza, de nos liderar no desenvolvimento de nossa gente, no que tange à cultura, à comunicação, à cidadania e ao bom coração.

Ramiro Guedes da Luz é uma dessas estrelas que por aqui chegou, por aqui se instalou, que por aqui se manifestou; se tornou peça essencial para hoje, a nossa gente ser o que é, ter o que tem, viver o que vive. Ele participou diretamente para que, em pouco tempo, com todas as limitações que nossa região possui, a cidade encontrasse seu caminho de desenvolvimento, mesmo com sua chegada décadas depois do início de tudo. O nome que conseguiu estabelecer em nossa constelação, não foi pelo fato de ser um comunicador, mas por tudo que ele conquistou e estabeleceu na sua comunicação… tornou-se referência em tudo que era, em tudo que fazia, em tudo que construiu nestes muitos anos.

A FORMAÇÃO DA GENIALIDADE

Por 73 anos, quase metade entre nós, ajudando a contruir uma grande cidade grande entre tantas cidades agradáveis em nosso extremo sul baiano, Ramiro Guedes foi nascido em Minas Gerais, em Teófilo Otoni, na casa 7 da Rua das Flores, em 12 de março de 1948. Nesse ano, o mundo vivia grandes mudanças no pós-guerra (neste link). Era filho do bancário João Cordeiro, e de Dona Maria, conhecida carinhosamente por Dona Neném. Ramiro Guedes era o caçula, filho temporão, entre 8 irmãos.

Marcou sua infância com uma grande paixão pelo pai, e dele sempre contou muitos causos e histórias, mas o perdeu na juventude. Neste tempo, ansioso por estudar, matriculou-se no seminário católico da cidade de Pedro Leopoldo, onde se formou em Letras pela extensão da Universidade Católica de Minas Gerais. Ainda no seminário, antes ser ordenado padre, já exercendo a profissão de professor na cidade de Jaboticatubas, conhece a jovem Raquel da Imaculada Conceição, com quem se casou, e com quem teve três filhos, o Luciano, a Társila e o Pablo.

Muito apaixonado por literatura, aos 20 anos, em 1968, no vigor do Golpe Militar no Brasil, torna-se comunicador na muito conhecida Rádio Teófilo-Otoni 910 AM, indo depois para a Rádio Imigrantes 100,9 FM na sua cidade, a qual, ainda, é reconhecida como a capital do nordeste mineiro. É quando encontra sua realização profissional. Comunicação e cultura tornaram-se os grandes instigadores de sua existência em benefício da vida de todos que fossem alcançados por seu potencial de gente apaixonada em promover o bem coletivo.

Várias circunstâncias empurraram Ramiro Guedes e família para São Paulo. Por lá, fora dos seus propósitos profissionais, como um parêntese essencial à sua formação pessoal, e até existencial, aventurou-se a ser representante comercial de uma editora, enquanto sua esposa trabalhava na Sears, loja de departamentos. Passados alguns anos, o casamento se desfez, e por várias dificuldades o filho Luciano terminou ficando com o pai, e o Pablo e a Társila com mãe, que, passado algum tempo, voltaram para Belo Horizonte. Passado mais outro tempo, Ramiro veio com o Luciano para Teófilo Otoni.

Pessoas próximas afirmam que o filho mais velho, o Luciano, que era autista, foi uma das grandes inspirações para o Ramiro Guedes ser a pessoa, o profissional, o amigo, o pai, o esposo, o comunicador que ele veio a se tornar, o espírito doce e aberto, o angélico inspirante que transpirava respeito, tolerância, defesa da diversidade, e cativante amigo e colega que foi, mesmo com aqueles que se mostraram não simpatizantes com as suas simpatias, não concordantes com as suas concordâncias. Ramiro Guedes, para estes próximos, era “sui generis”, uma alma fora do seu tempo e dos seus contextos.

Antes de chegar, pra ficar, em Teixeira, Ramiro Guedes já havia se tornado um respeitado jornalista e radialista, importante escriba jornalístico, querido apresentador de radiojornalismo de grande sucesso no nordeste de Minas Gerais. Sua voz, sua entonação, sua maneira de brincar com o microfone, sua audiência e, até, com a informação, já fazia o profissional ser notório, muito bem conceituado naquela vasta região, a ponto de, sua fama, o raio de sua provocação profissional, chegar, como excelente recomendação, à nosa cidade.

O DESLUMBRAR DO GÊNIO

Aos 42 anos, Ramiro Guedes é convidado pelo prefeito de Teixeira de Freitas, Francistônio Pinto, a vir trabalhar, com toda sua genialidade, na Rádio Caraípe FM. Ele chegou na cidade, de muda, em 9 de maio de 1990, quando se comemorava o 5º aniversário de emancipação da nossa cidade. Para tanto, foi muito bem recomendado pelo presidente da Associação Comercial de Teófilo Otoni, o Sélem Handele. O Ramiro dizia que resistiu muito ao convite, pois a fama de Teixeira, sobre violência, lhe assustava, e relembrava o episódio da juíza eleitoral “recebida a tapas”, sendo preciso que uma Força Federal viesse interferir. Mas cedeu, e valeu a pena para ele e para todos nós da cidade e região.

Já em Teixeira, atuando bem como sabia fazer, ampliando seu profissionalismo, suas amizades e suas influências em várias áreas da vida social e política, Ramiro Guedes se ambientou, e foi se enraizando, tornou-se um apaixonado por nossa cidade e nossa gente. Cada vez mais, mostrava-se um mineiro abaionado, um baiano amineirado. Foi dessa forma que conheceu a Marisa de Fátima Goular, que veio se tornar sua segunda esposa, com quem teve uma filha, a Maíra Guedes. Foram 36 anos de casados, uma história apaixonada de amor, mais uma inspiração que ofereceu a todos que com ele conviveu. Para muitos, ele afirmava que Marisa era “a sua Menina da Ladeira”.

Este casamento promoveu um novo e maior Ramiro Guedes, para ele mesmo, para sua família e para toda a sociedade. Mas, segundo pessoas próximas a eles, este casamento deu novas cores para a atenção e os cuidades do pai para com seu filho mais velho, o Luciano. Marisa foi um anjo para o esposo e para o filho, com seu jeito materno e inspirador, a atenção ao autismo do rapaz deixou de ser uma grande dor e tornou-se um cotidiano reverente e amoroso para com o diferente, o desconhecido, o incompreensivo. Em 1997 esse filho falceu rodeado de carinho e foi enterrado entre nós. O Ramiro sempre dizia: “Uma cidade onde você tem um filho enterrado se torna aquele pedaço que Chico Buarque define com sua música: saudade é o revés de um parto, saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”.

O PROFISSIONALISMO ATIVO

Como jornalista e radialista, e com a fusão sábia e bem estruturada destas funções tão bem vividas e praticadas por Ramiro Guedes, desde os tempos mineiros, aconteceu sua ascensão facilmente compreendida e apreendida pelas comunidades aonde, de alguma forma, atuou com sua presença altamente personalizada. “Escriba jornalístico” tem sido um termo repetido por pessoas que conviveram, como colegas ou amigos, com sua influência. Na mesma intensidade, é apontado como apresentador de radiojornalismo de grande sucesso a partir de marcas inconfundíveis em suas apresentações; e colunista respeitado, consultado e diferenciado, de jornais e portais de notícias às comunidades de seus leitores. Foi um profissional completo, tão completo que ainda, mesmo após sua morte, se faz escola para muitos novatos, se faz exemplo para muitos veteranos, e isto parece que ainda dura por muitos anos.

Tem sido lembrado o que ele afirmava sobre o jornalismo em Teixeira: “é um jornalismo diferente, é jornalismo de resultados”. Ele entendia que os leitores em geral não tinham o costume e o prazer de buscar notícias analisadas, estudadas nos fatores que geravam os eventos noticiados, e, com isto, e, para isto, tanto as empresas noticiosas, e os profissionais chegarm ao entendimento de atenderem a esta espectativa popular, não querendo pagar o preço de mudar este comportamento coletivo. Isso o incomodava, com sua paixão pela leitura e pelo estudo das causas para se compreender os efeitos, esta se tornou uma de suas marcas. Sempre que pudia, evitava dar a simples informação do acontecido, mas buscava reviver com seus leitores e ouvintes, as várias causas geradoras daquela situação noticiada.

Sobre o início da imprensa em nossa região, ele afirmava que o jornalismo naqueles momentos iniciais “era bem mais agressivo, no sentido dos fatos”. Por exemplo, em 21 de abril de 1991 aconteceu o caso Ivan dos Santos Rocha, um episódio que angustiou todos os profissionais de imprensa do extremo sul da Bahia. Sequestrado e desaparecido, o jornalista foi sacrificado em rsposta ao seu trabalho investigativo. Naquela ocasião, Ramiro Guedes foi o principal “combatente” daquele fato; por muitos dias esteve exigindo justiça e fazendo denúncias que auxiliasse a polícia a chegar aos mandantes interessados, aos suspeitos executores, e a se encontrar o corpo da vítima, de 32 anos.

Amigos e colegas próximos, afirmam que uma “prova de fogo” para Ramiro Guedes foi a eleição para prefeito em 1992, entre os candidatos Temóteo Brito e Ubaldino Júnior, marcada por um clima terrível, de muita agressividade, ameaça de morte e uma série de outros acontecimentos. Por vários momentos, naquela oportunidade, amizades foram colocadas em cheque, profissionalismo foi questionado por opositores dos dois lados políticos, e, além de outros inconvenientes, há quem afirme que até sua vida foi ameaçada. Tudo isto se somou, e, ainda mais, quando de seu início de atuação em nossa cidade e região.

Na ativização profissional de Ramiro Guedes, ele é lembrado como um dos grandes idealizadores pela profissionalização do jornalismo radiofônico em nossa região. Assim, entre outras atividades, o primeiro curso de radialista da história de Teixeira de Freitas foi feito no Espaço Cultural da Paz, por uma iniciativa do Zé da Baiana com o auxílio de Ramiro Guedes. Eles trouxeram o sindicato para a cidade e o curso durou um ano. Com o curso para o radialismo regional, ficou fácil para todos os envolvidos, promotores e aprendizes, a importância e a necessidade ética que a função exige, já que se trata de ser intérprete da realidade para a compreensão da comunidade.

Confira a história na íntegra através do site Fato Verdade clicando AQUI.


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Coluna
Fatos Históricos

Domingos Cajueiro Correia, de 65 anos, é o primeiro policial rodoviário a se formar no município. Ele faz parte de uma família que leva consigo a história de Teixeira de Freitas, desde quando era um pequeno povoado até a sua criação, e que contribuiu para o desenvolvimento do município. Hoje, além de atuar nas rodovias, ele dedica seu tempo para contar relatos narrados por seus familiares. Aproveitem este espaço que vai mostrar curiosidades que muitos teixeirenses desconhecem.

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