Cultura

Teixeira 40 anos: 2º episódio da série “Ateliê Memória” revive festas populares que marcaram a história da cidade

03/05/2025 - 17h13Por: Sulbahianews

No segundo episódio da série especial “Ateliê Memória – De volta à história de Teixeira de Freitas”, o Sulbahianews mergulha no universo das festividades tradicionais que moldaram a identidade cultural do então povoado, nas décadas de 1960 e 1970. A proposta do projeto é revisitar as origens da cidade através dos relatos dos moradores mais antigos, revelando episódios marcantes, curiosidades e imagens que ajudam a contar a história viva da região.

Quem guia o leitor nessa viagem ao passado é Domingos Cajueiro Correia, o primeiro policial rodoviário federal da cidade e filho de Isael de Freitas Correia — pioneiro local que faleceu aos 95 anos, deixando um legado de memórias e contribuições à comunidade.

Neste capítulo da série, Domingos compartilha lembranças das festas populares que movimentavam o então povoado de Teixeira de Freitas, antes mesmo de sua emancipação política.

A fé e a tradição na Festa de São Sebastião

Celebrada em 20 de janeiro, a Festa de São Sebastião era um dos eventos mais aguardados do calendário local. Inspirada nas tradicionais encenações entre mouros e cristãos, o povoado se dividia em dois grupos: um vestido de azul e outro de vermelho, representando exércitos rivais em uma simbólica batalha encenada pelas ruas.

As apresentações exigiam semanas de ensaio. Os participantes treinavam os movimentos com espadas — cuidadosamente preparadas para evitar acidentes — e decoravam discursos ensaiados por embaixadores e capitães de ambos os lados. O ponto alto era o encontro dos grupos diante da capela, onde a imagem de São Sebastião era simbolicamente protegida por seus devotos em meio à simulação da luta.

“Era uma festa bonita de se ver. Tinha respeito, não tinha briga. Era tudo ensaiado, com muito cuidado. A imagem de São Sebastião ficava no altar, e todos sabiam que ali não era lugar de confusão”, relembra Domingos.

Fogueiras e quadrilhas na Festa Junina

As festas juninas também deixaram sua marca no imaginário da cidade. Na Praça dos Leões ou nas casas dos povoados, as comemorações eram adornadas com bandeirolas, palhas de coqueiro e grandes fogueiras, chamadas de “fogueiras baianas”. O formato das lenhas, entrelaçadas em forma de quadrado, era característico da região.

Quadrilhas animadas com casamentos caipiras, muitas vezes organizadas por escolas, garantiam a diversão das famílias. A música, a comida típica e a dança completavam o cenário de uma festa que unia gerações em torno da cultura popular.

A alegria colorida da Festa de Reis

Marcando o ciclo do Natal ao início de fevereiro, a Festa de Reis começava em 6 de janeiro e se estendia até o dia de São Brás, em 3 de fevereiro. Com muita música ao som de sanfona, pandeiros, tamborins e reco-reco, o povoado vibrava ao ritmo das brincadeiras e cantorias.

O cuidado com os trajes era uma tradição à parte. A cada ano, novas cores e modelos eram adotados pelos participantes: blusas rosas ou verdes, calças brancas, saias longas — tudo conforme a criatividade e a fé do grupo. A festa reunia a comunidade em um ambiente de alegria e devoção.

Um Natal simples, mas cheio de fé

Ao contrário das festas ruidosas, o Natal era celebrado com simplicidade. Domingos recorda com carinho os presépios feitos por sua mãe, dona Lourdes Cajueiro, usando materiais rústicos da natureza. Lascas de malacacheta davam brilho à montagem, enquanto carvão moído e cola feita de goma de mandioca davam forma às estruturas de papelão fixadas na parede.

A gruta com o Menino Jesus ao centro era rodeada por areia, flores, plantas e velas. “Os vizinhos vinham ver o presépio, traziam as crianças. Tinha oração, cantos natalinos e comida farta. Era tudo muito singelo, mas cheio de fé”, lembra ele.

Com esses relatos emocionantes, o “Ateliê Memória” reafirma a importância de preservar a história oral e os costumes que deram forma à identidade teixeirense. No próximo episódio, novas memórias serão resgatadas, aproximando as novas gerações de um passado rico em cultura, religiosidade e pertencimento.

Você se lembra de alguma dessas festas? Conte para a gente e ajude a manter viva a história de Teixeira de Freitas.