Policial

Polícia prende quadrilha que agia no Minha Casa Minha Vida

07/08/2014 - 18h51Por: O Globo/Giselle Ouchana/ Bruno Amorin

Ademir, síndico do Condomínio Ferrara, na Estrada dos Caboclos, em Campo Grande. foi preso na operação policial – Hudson Pontes / Agência O Globo

Policiais da Delegacia de Repressão aos Crimes Organizados e Inquéritos Especiais (Draco-IE) realizam nesta quinta-feira, 7 de agosto, a Operação Tentáculos, em vários condomínios do 'Minha Casa Minha Vida', para desarticular uma quadrilha que atua em venda e locação ilegal de imóveis do programa social. Segundo o titular da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), Alexandre Capoti, pelo menos 21 pessoas já foram presas na ação, realizada em Campo Grande e Cosmos, na Zona Oeste do Rio. Para o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, a polícia tem feito o seu trabalho para combater esse tipo de crime, que há ocorre há muitos anos, que no início era apoiado e nunca tinha sido combatido:

— Esse trabalho é feito há muitos anos, principalmente nessa área, onde há uma atuação muito grande da milícia. Agora, a sociedade tem que entender duas coisas. A primeira delas é que é um crime que está aqui há 20 anos e que nunca foi combatido. É um crime que, no início dele, muita gente apoiava. E hoje criou tentáculos e raízes difíceis de a polícia combater. Mas a polícia está fazendo seu trabalho, apesar de ser um trabalho difícil — afirmou Beltrame.

Segundo a polícia, o objetivo da ação é cumprir 27 mandados de prisão e 84 de busca e apreensão. Entre os mandados estão nove contra policiais militares, um policial civil e um agente da Secretaria estadual de Assistência Penitenciária (Seap). Entre os presos estão um homem identificado apenas como Ademir e o subtenente da Polícia Militar João Henrique Barreto, lotado no 40º BPM (Campo Grande). Ademir foi encontrado em casa, no Condomínio Ferrara, na Estrada dos Caboclos. Ele é o síndico do condomínio e seria o responsável pela cobrança indevida de taxas pela milícia que atua na região.

De acordo com o delegado, Ademir não era policial, mas é considerado o terceiro na hierarquia do grupo, já que atuava como chefe de todos os cobradores. Já o subtenente Barreto era encarregado de receber as ordens dos ex-PMs Ricardo Teixeira da Cruz, o Batman, que já cumpre pena na penitenciária federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul; e por Toni Ângelo Souza de Aguiar, o Erótico, preso em 2013; e repassá-las para a quadrilha. Um integrante da quadrilha que não tinha sido identificado pelas investigações também foi preso, em flagrante, com uma arma, enquanto tentava auxilar a fuga de outro bandido.

Polícia mostra hierarquia de milícia que agia em condomínios de Campo Grande e da Baixada – Hudson Pontes / Agência O Globo

Na ação, já foram apreendidos armas, munições, documentos e veículos de luxo que eram incompatíveis com a renda de seus donos. Segundo as investigações, os milicianos atuavam no Condomínio Ferrara desde 2011 e movimentavam cerca de R$ 1 milhão por mês. Os presos atuavam em seis condomínios do programa Minha Casa Minha Vida, no total de 1.600 unidades, e tinham cerca de cinco mil moradores sob o seu jugo em Campo Grande e Cosmos. A quadrilha também atuava em outras da área da Zona Oeste. O esquema já havia sido denunciado pelo O GLOBO.

Ações da milícia eram cruéis e violentas

Os milicianos expulsavam as famílias dos apartamentos para revender ou alugar as unidades. Além disso, cobravam taxas indevidas, como cerca de R$ 30 nas contas de luz e água, além de “gatonet”. Os moradores também eram obrigados a comprar cestas básicas diretamente com a quadrilha, por preços acima do mercado. Os bandidos cobravam R$ 220 por cestas que valem R$ 150.

Caso os moradores não cumprissem as ordens, ou retornassem para pegar pertences como roupas, eram espancados e até mortos. A polícia ainda não informou quantas pessoas foram assassinadas. O grupo também extorquia motoristas de transporte alternativo, que eram obrigados a pagar R$ 350 por semana para circular na região.

— Um detalhe dessa ação criminosa é que os proprietários das casas tinham contrato mútuo com a Caixa Econômica, então, eles eram expulsos mas permaneciam com os nomes vinculados e os débitos do valor mensal. Os criminosos vendiam esses imóveis, falsificando o documento de venda. Também estamos apurando esse procedimento, porque o documento era falso, mas a materialidade verdadeira — afirmou o delegado da Draco-IE, Luiz Augusto Braga.

O grupo de milicianos diversificou o comando para dificultar as investigações e diminuir sua exposição. Entretanto, a polícia verificou que, após a prisão de Toni Ângelo, a sucessão no comando da quadrilha era do PM João Henrique Barreto, o Cachorrão; e de Marco José de Lima Gomes, o Gão, preso na última terça-feira pela Divisão de Homicídios (DH). As ações dos criminosos são cruéis e envolvem a prática de homicídios, ocultação de cadáveres, tortura, roubos, lesões corporais graves, extorsões, ameaças, constrangimentos ilegais e injúrias

A Operação Tentáculos acontece desde as 6h desta quinta-feira, e conta com 350 policiais civis, incluindo 60 delegados. Chefiada pela Draco-IE, a ação também conta com o apoio do Ministério Público, da Subsecretaria de Inteligência (SSINTE) da Secretaria de Segurança, da Polícia Civil, da Corregedoria Geral Unificada, Corregedoria da Polícia Civil, da Corregedoria da Polícia Militar e da Corregedoria da Secretaria de Administração Penitenciária.


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