Registros
históricos

Perdeu? Relembre todos os episódios da série documental que celebrou os 40 anos de Teixeira de Freitas

09/05/2025 - 16h21Por: Sulbahianews

O Sulbahianews produziu, na última semana, a série especial Ateliê Memória – De volta à história de Teixeira de Freitas, um projeto com a proposta de revisitar as origens do município a partir das lembranças de seus moradores mais antigos. A cada episódio, histórias marcantes, curiosidades e retratos de época revelam a construção coletiva da identidade teixeirense.

A estreia foi marcada pelo depoimento emocionante de Domingos Cajueiro Correia, um dos filhos de Isael de Freitas Correia, falecido aos 95 anos e reconhecido como um dos pioneiros da região. Em conversa com historiadores e ao lado da filha, Aline Prates, Cajueiro compartilha registros fotográficos e relatos que ajudam a compreender o passado de Teixeira de Freitas.

Episódio 01 – O primeiro Policial Rodoviário Federal de Teixeira de Freitas

Cajueiro relembra sua infância marcada pelo trabalho no campo. Aos oito anos, já acompanhava os pais na roça. Com apenas 11, fazia o transporte de leite a cavalo — do trevo da BR-101 até o centro da cidade — nas primeiras horas da manhã, conciliando a atividade com os estudos à tarde.

Em 1969, mudou-se para Caravelas para cursar o ginásio, já que o então povoado de Teixeira de Freitas ainda não oferecia esse nível de ensino. Retornou em 1971 e, em 1976, formou-se em contabilidade no Centro Educacional Professor Rômulo Galvão, integrando a primeira turma de contadores da cidade.

No ano seguinte, Cajueiro inscreveu-se na Polícia Rodoviária Federal, tornando-se o primeiro PRF oriundo de Teixeira de Freitas — um feito que marca sua trajetória de pioneirismo e compromisso com a cidade.

Episódio 02 – Festas Populares

A fé e a tradição na Festa de São Sebastião

Celebrada em 20 de janeiro, a Festa de São Sebastião era um dos eventos mais aguardados do calendário local. Inspirada nas tradicionais encenações entre mouros e cristãos, o povoado se dividia em dois grupos: um vestido de azul e outro de vermelho, representando exércitos rivais em uma simbólica batalha encenada pelas ruas.

As apresentações exigiam semanas de ensaio. Os participantes treinavam os movimentos com espadas — cuidadosamente preparadas para evitar acidentes — e decoravam discursos ensaiados por embaixadores e capitães. O ponto alto era o encontro dos grupos diante da capela, onde a imagem de São Sebastião era simbolicamente protegida por seus devotos em meio à simulação da luta.

“Era uma festa bonita de se ver. Tinha respeito, não tinha briga. Era tudo ensaiado, com muito cuidado. A imagem de São Sebastião ficava no altar, e todos sabiam que ali não era lugar de confusão”, relembra Domingos.

Fogueiras e quadrilhas na Festa Junina

As festas juninas também deixaram sua marca no imaginário da cidade. Na Praça dos Leões ou nas casas dos povoados, as comemorações eram adornadas com bandeirolas, palhas de coqueiro e grandes fogueiras, chamadas de “fogueiras baianas”. O formato das lenhas, entrelaçadas em forma de quadrado, era característico da região.

Quadrilhas animadas com casamentos caipiras, muitas vezes organizadas por escolas, garantiam a diversão das famílias. Música, comida típica e dança completavam o cenário de uma festa que unia gerações em torno da cultura popular.

A alegria colorida da Festa de Reis

Marcando o ciclo do Natal ao início de fevereiro, a Festa de Reis começava em 6 de janeiro e se estendia até o dia de São Brás, em 3 de fevereiro. Com muita música ao som de sanfona, pandeiros, tamborins e reco-reco, o povoado vibrava ao ritmo das brincadeiras e cantorias.

O cuidado com os trajes era uma tradição à parte. A cada ano, novas cores e modelos eram adotados pelos participantes: blusas rosas ou verdes, calças brancas, saias longas — tudo conforme a criatividade e a fé do grupo. A festa reunia a comunidade em um ambiente de alegria e devoção.

Um Natal simples, mas cheio de fé

Ao contrário das festas ruidosas, o Natal era celebrado com simplicidade. Domingos recorda com carinho os presépios feitos por sua mãe, dona Lourdes Cajueiro, com materiais rústicos da natureza. Lascas de malacacheta davam brilho à montagem, enquanto carvão moído e cola feita de goma de mandioca moldavam as estruturas de papelão fixadas na parede.

A gruta com o Menino Jesus ao centro era rodeada por areia, flores, plantas e velas. “Os vizinhos vinham ver o presépio, traziam as crianças. Tinha oração, cantos natalinos e comida farta. Era tudo muito singelo, mas cheio de fé”, lembra ele.

Episódio 03 – Mata Traiçoeira

Um deslumbramento seguido pelo medo

Era uma longa jornada no lombo de um animal cavalar. Domingos descreve, com riqueza de detalhes, os cenários do caminho: mata fechada, animais silvestres cruzando as trilhas, córregos de águas cristalinas e um verde vibrante sem fim.

“Fiquei realmente deslumbrado”, lembra

Mas o encantamento logo deu lugar ao medo. À medida que a noite caía, a família percebeu que estava perdida na floresta. Ao tentarem atravessar uma lagoa de águas escuras e profundas, o animal de carga — chamado Rucinho — atolou. Domingos, sua mãe e dois irmãos estavam acomodados em uma cesta de cipó. O desespero tomou conta.

Foi nesse momento que avistaram uma fraca luz de lamparina do outro lado da lagoa. Era Fernando Cirico, um morador da região, que os socorreu. “Se não fosse esse anjo da guarda, não sei o que seria de nossas vidas”, conta.

A família foi acolhida em uma casa de taipa e taubinha. No dia seguinte, com as orientações do anfitrião, seguiram pelos campos do Mato Verde até o sítio dos avós, a cerca de duas léguas de Juerana.

O encantamento do Mato Verde

O trajeto seguinte revelou ainda mais da beleza natural da região: campos cobertos de lírios em tons amarelo-ouro e laranja, vegetações como a marcela — usada para encher travesseiros —, flores beges conhecidas como alfinetes e espécies como Coco de Sandó e a afiada tiririca.

Os córregos eram de águas cristalinas e abundantes, difíceis de atravessar quando cheios. As lagoas eram muitas, e a viagem durava o dia inteiro”, relata.

Episódio 04 – Nomes e Apelidos

Antes de ser oficialmente batizada como Teixeira de Freitas e alcançar sua emancipação político-administrativa em 1985, a cidade teve várias denominações populares e curiosas: “Comércio dos Pretos”, “Tirabanha”, “Mandiocal”, “Perna Aberta”, “Arrepiado” e “São José do Itanhém”.

Cada nome reflete um tempo, um contexto ou uma característica marcante daquele período, simbolizando as transformações que moldaram o município.

Hoje, consolidada como Teixeira de Freitas, a cidade continua a crescer sem esquecer suas raízes. A série Ateliê Memória tem justamente esse papel: resgatar e preservar a história local, conectando as novas gerações ao passado de sua terra.

Episódio 05 – Córregos

Entre os destaques do episódio está o Córrego do Lava-Pés, no atual bairro Tancredo Neves. Segundo Domingos, nas décadas passadas, era comum que moradores da zona rural caminhassem até o povoado, e, ao atravessar o córrego, lavassem os pés da poeira — daí o nome simbólico.

Outros cursos d’água marcantes são o Córrego da Charqueada (ou da Preguiça), o Córrego do Jabuti e o Córrego Água Vermelha (ou da Jussara), cada um com histórias e nomes que evocam o cotidiano e o ambiente natural da época.

Episódio 06 – As mulheres que ajudaram a nascer uma cidade

Ana Marcidia Dias, a “Ana de Torquato” (1912–1991), foi a primeira parteira da cidade e também fornecedora de água para a população, numa época em que isso era um recurso escasso. Já Maria de Lourdes Cajueiro Correia (1929–2005) se tornou referência nos bairros Nova América e Caminho do Mar, sendo parteira e enfermeira popular quando ainda não havia médicos na região.

O episódio resgata essas figuras essenciais e valoriza a importância da memória oral como ferramenta de preservação histórica.

Episódio 07 – Curiosidades

Histórias pouco conhecidas, como o destino do primeiro cemitério da cidade — soterrado sob o que hoje é a Avenida Afonso Pena —, a implosão da represa do Clube Jacarandá e a atuação do Exército na primeira eleição municipal são algumas das curiosidades reveladas.

Também são lembradas as origens do comércio e do cinema local, com destaque para o Cine Elisabete, que funcionava com gerador próprio e era símbolo de uma época.

Com linguagem sensível, riqueza de detalhes e relatos emocionantes, Ateliê Memória transcende o formato documental ao transformar histórias de vida em patrimônio cultural. A série celebra os 40 anos de emancipação política de Teixeira de Freitas e oferece um tributo aos homens e mulheres que, com coragem, fé e trabalho, ajudaram a construir a cidade. Ao revisitar o passado com respeito e afeto, o projeto cumpre seu papel maior: manter viva a memória coletiva e fortalecer os vínculos entre gerações.

Matérias relacionadas