Violência

Jornadas exaustivas, alojamentos precários e restrição de liberdade: trabalhadores são resgatados em situação análoga à escravidão

28/05/2025 - 14h57Por: G1 BA

Sete trabalhadores, entre eles três indígenas da etnia Pataxó Hã-Hã-Hãe, foram resgatados na terça-feira, 27 de maio, em condições análogas à escravidão em uma fazenda na zona rural de Guaratinga, no extremo sul da Bahia.

Segundo a Polícia Civil, a situação foi descoberta após uma denúncia anônima. Após o resgate, os trabalhadores contaram que foram submetidos a jornadas exaustivas, moravam em alojamentos precários, não tinham alimentação suficiente disponível e sofriam restrições à liberdade de locomoção, inclusive para buscar atendimento médico.

Um dos trabalhadores conseguiu contato com um familiar, relatando as condições a que estavam sendo submetidos. Diante disso, a delegacia foi acionada e iniciamos, de imediato, as diligências para localizar a propriedade rural. Com o resgate das vítimas, seguimos agora com as investigações para identificar e responsabilizar os envolvidos nesse crime”, disse o delegado Robson Domingos.

Um dos resgatados disse que quando estava doente, só conseguiu atendimento hospitalar na cidade de Itabela, que fica na mesma região, porque pediu ajuda a um colega, que pagou o transporte com sacas de café.

As vítimas também relataram que:

• Itens básicos — como cestas de alimentos, equipamentos de proteção (botas e luvas), e garrafas térmicas para água — eram cobrados, aumentando ainda mais a dívida imposta;
• As passagens utilizadas para chegar à fazenda teriam sido convertidas em dívidas;
• As dívidas contraídas eram utilizadas como meio de coerção, impedindo que os trabalhadores deixassem o local antes da finalização da colheita de café.

De acordo com a polícia, a residência fornecida era uma casa de madeira, com dois quartos e sem banheiro. Um dos trabalhadores, que também atua como pedreiro, construiu um sanitário improvisado, já que todos utilizavam o mato como alternativa.

Nos fundos, havia uma fossa a céu aberto que exalava forte odor de fezes, agravando as condições de insalubridade. Uma das vítimas chegou a adoecer, mas não recebeu atendimento médico, por negativa do empregador.

Eles foram levados para um imóvel em Itabela, onde receberam alimentação, assistência básica e transporte para retorno às cidades de origem.

A polícia contou que o dono da fazenda não foi localizado até a última atualização desta reportagem, mas já foi identificado. As investigações continuam para apurar os fatos.

Três dos trabalhadores se identificaram como indígenas da Aldeia Bahetá, da etnia Pataxó Hã-Hã-Hãe, situada no município de Itaju do Colônia. O caso foi comunicado ao cacique responsável.