Exclusivo: Atriz Monique Hortolani concede entrevista ao SulbahiaNews e fala sobre novo filme e sua carreira no cinema

Fotos/ Fotógrafa: Nicolle Kruger
Previsto para estrear no próximo dia 28 de agosto, o filme nacional C.I.C – Central de Inteligência Cearense é uma comédia dirigida por Halder Gomes. A trama acompanha um agente secreto, interpretado por Emilson Filho, que recebe a missão de recuperar a fórmula de um projeto ultrassecreto das mãos de uma poderosa organização antes que seja tarde demais. No elenco também está a atriz e roteirista teixeirense Monique Hortolani, que concedeu entrevista ao jornalista Luiz Oss, na qual falou sobre a produção e sobre sua carreira no cinema:
1) Você volta a trabalhar com o cineasta Halder Gomes, criador da série O Cangaceiro do Futuro, onde interpretou a personagem Amália. Como é colaborar com um diretor tão autoral, cuja obra traz um estilo próprio fortemente marcado pela temática nordestina? E, na sua visão, qual a importância do cinema nacional ao contar histórias ambientadas em nossa região?
Trabalhar com o Halder é sempre uma experiência muito rica. Ele tem um olhar muito especial, sabe exatamente o que quer contar e, ao mesmo tempo, dá espaço para que o ator crie, arrisque e traga suas próprias camadas para o personagem. Eu já tinha vivido isso em O Cangaceiro do Futuro com a Amália, e agora em C.I.C pude sentir de novo essa parceria criativa que ele conduz com tanta leveza.
Eu acredito que contar histórias ambientadas na nossa região é fundamental. O Brasil é um país diverso demais e cada canto tem uma riqueza cultural enorme. Quando o cinema se volta para essas narrativas, ele não só valoriza quem somos, mas também mostra para o mundo essa pluralidade. E, no caso do Nordeste, é ainda mais especial, porque além da força estética, a gente carrega uma identidade muito viva, cheia de humor, poesia e resistência. Ver essas histórias na tela é um jeito de se reconhecer e de se sentir representado.

2) Em C.I.C – Central de Inteligência Cearense, você dá vida à personagem Divina. Pode nos falar um pouco sobre quem é essa personagem e como foi o seu processo de preparação para interpretá-la?
A Divina é uma personagem muito divertida, porque ela entra nesse universo de espionagem com uma energia toda particular. Ela é ousada, destemida e tem um quê moderno: cabelo azul, batom preto, meio rock and roll, sabe? Não é a espiã clássica e perfeita que a gente costuma ver nos filmes internacionais, é uma agente secreta com muito tempero brasileiro e cheia de senso de humor.
Para dar vida a ela, meu processo de preparação foi uma delícia e também um grande aprendizado. Comecei a treinar artes marciais porque queria que o corpo da Divina tivesse essa agilidade de quem está pronta para a ação. Assisti a muitos filmes com mulheres agentes secretas, tentando observar postura, presença e ritmo, e também me dediquei bastante ao sotaque cearense, que é bem diferente do baiano. Eu queria que soasse natural, com a musicalidade certa, e me diverti muito nesse processo.
No fim, acho que essa mistura da disciplina dos treinos, pesquisa de referências, estudo da prosódia e a liberdade de brincar em cena me ajudou a construir a Divina. É uma personagem que tenho muito carinho e que espero que o público se divirta tanto assistindo quanto eu me diverti fazendo.
3) Das dez maiores bilheteiras do cinema nacional, metade é composta por comédias, o que mostra a grande preferência do público por esse gênero. Considerando seus trabalhos mais recentes, quais são, na sua opinião, os principais desafios de atuar em comédias?
Eu acho que a comédia tem um desafio enorme, porque fazer rir não é nada simples. Cada detalhe conta: o tempo da fala, a pausa certa, a troca com o colega de cena… tudo precisa estar muito afinado. E, ao mesmo tempo, não dá para “forçar” o humor, porque o público percebe na hora. Então, para mim, o maior desafio é encontrar esse equilíbrio entre a técnica e a verdade do personagem.
Nos meus últimos trabalhos, percebi também que a comédia exige muita generosidade em cena. É um jogo coletivo: você precisa estar atento ao outro, ouvir, reagir, deixar o espaço fluir. E é isso que eu acho mais bonito, porque a graça nasce justamente dessa troca. No fundo, é um gênero que desafia e ensina muito, e talvez seja por isso que eu me divirta tanto fazendo.
4) O cinema brasileiro enfrenta diversas dificuldades diante da hegemonia de Hollywood, o que muitas vezes desanima aspirantes a atores e atrizes. Que conselho você daria para quem sonha em seguir carreira na sétima arte, mesmo diante desses obstáculos?
Eu diria para não desistir. O caminho não é fácil, mas é muito bonito. Cada passo, cada projeto, por menor que pareça, ajuda a construir uma trajetória. Acho importante estudar, se preparar, estar sempre aprendendo e, principalmente, acreditar em você mesmo. O cinema brasileiro tem uma riqueza enorme, nossas histórias são potentes e precisam ser contadas.
Também acho essencial ter paciência e resiliência. Às vezes a gente se compara com o ritmo de Hollywood e esquece que temos nossa própria forma de fazer cinema, com nossas cores, nosso humor, nossa poesia. Então, meu conselho é: confie no seu processo, valorize a cultura que você carrega e siga firme. Porque, no fim, quando a gente vê uma história nossa ganhando vida na tela, todo esforço faz sentido.

5) O crescimento das produções audiovisuais em plataformas de streaming tem transformado o mercado e gerado certa concorrência com o cinema tradicional. Você mesma já esteve em uma série da Netflix, O Cangaceiro do Futuro, e também em produções para o cinema. Quais diferenças você percebe entre essas duas experiências? E acredita que, apesar da ascensão do streaming, o cinema seguirá firme nos próximos anos?
São experiências bem diferentes, mas que se completam. O streaming tem um alcance impressionante, a série chega no mesmo dia em vários países — no caso de O Cangaceiro do Futuro, em 180 países. Isso é muito poderoso! Abre muitas portas, dá visibilidade e conecta a gente com públicos que talvez nunca teriam acesso ao nosso trabalho.
Já o cinema tem uma magia única: a sala escura, a tela grande, a experiência coletiva de rir, chorar ou se emocionar junto com outras pessoas. É algo que não se compara. Na minha visão, o streaming e o cinema não competem, eles convivem. O streaming ampliou as possibilidades e democratizou o acesso, mas o cinema segue firme porque essa experiência de estar na sala, viver a história junto, ainda é insubstituível. Eu acredito muito que os dois formatos têm espaço e que, no fim, o público só tem a ganhar com essa diversidade de modos de assistir e se conectar com as histórias.
6) Para finalizar, pode compartilhar conosco quais são seus próximos projetos?
Com certeza! Depois de C.I.C, eu sigo me dedicando a um projeto que é muito especial: um longa que estou desenvolvendo como roteirista e no qual também atuo como uma das personagens. É uma história inspirada em fatos reais, no estilo true crime, que tem um olhar muito humano e também uma função de alerta social. Está sendo uma experiência transformadora poder unir escrita e atuação nesse processo.
Além disso, quero continuar explorando o cinema em diferentes frentes, como atriz, roteirista e produtora. Então, vem muita coisa boa pela frente, e estou animada para dividir tudo isso com o público em breve.
Trajetória e filmografia:

Monique Hortolani é atriz e roteirista, natural de Teixeira de Freitas (BA). Formada pela Escola de Atores Wolf Maya e com especialização em Roteiro pela Academia Internacional de Cinema (AIC), em São Paulo, constrói desde 2009 uma trajetória no teatro, cinema, televisão e streaming.
No teatro, integrou o elenco do musical infantil Maísa no Ar, ao lado de Maísa Silva, além dos espetáculos Viúva, porém Honesta, com direção de Marco Antônio Braz, e Bonitinha, mas Ordinária, dirigido por Luís Artur Nunes. No cinema, estreou no longa Divaldo, o Mensageiro da Paz, de Clovis Mello, interpretando a personagem Georgetta. Protagonizou o curta Lollie, de Agnes Shinozaki, selecionado para o Cannes Short Film Corner 2020. Já na TV e no streaming, participou da série O Cangaceiro do Futuro (Netflix), no papel de Amália, sob direção de Halder Gomes e Glauber Filho. Mais recentemente, vive a agente Divina em C.I.C – Central de Inteligência Cearense, novo longa de Halder Gomes.
Fora das telas, Monique integrou equipes de direção de importantes produções publicitárias em grandes produtoras brasileiras e é fundadora do Destrava, escola de comunicação e oratória que já impactou profissionais de diversas áreas em todo o país. Atualmente, desenvolve seu primeiro longa autoral, um true crime, no qual assina o roteiro e também atua.