Veja

Bahia: Crescem casos de crianças com síndrome rara ligada à covid

18/10/2020 - 08h45Por: Correio 24 horas

Já faz parte do senso comum a informação de que idosos e pessoas com comorbidades inspiram maiores cuidados quando o assunto é o novo coronavírus. Existe, no entanto, outro grupo de pacientes que, apesar de não fazer parte da faixa de risco, também preocupa. É que em crianças e adolescentes a covid-19 pode evoluir para a chamada Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SMIP), que apresenta sintomas mais sérios, podendo levar ao óbito.

Na Bahia, entre agosto e outubro, o número de casos confirmados subiu 150%, de 14 para 35. Segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), neste período, foram registradas 53 notificações para a síndrome, que pode atingir pacientes de 0 a 19 anos, sendo confirmados 35 casos e duas mortes. Nessa faixa etária,  foram hospitalizadas 410 crianças e adolescentes em todo estado – 46  evoluíram para óbito.

Apesar de representar apenas 8,5% das internações infantis baianas, os casos de SIMP preocupam porque costumam, segundo os médicos, levar os pacientes à internação em UTIs  com mais frequência. Na Bahia, são apenas 39 leitos de enfermaria e 31 de UTI voltados para pediatria de covid.

Nesta   quarta-feira, a ocupação pediátrica dos leitos chegou a 49% para as enfermarias e 74% para as UTIs, com 19 e 23 leitos ocupados, respectivamente. Os números acendem o alerta da Sesab, que garante que a situação é preocupante. A pasta tem recomendado, principalmente, a suspensão das aulas presenciais.

Em Salvador, segundo o monitoramento da Secretaria Municipal de Saúde, são 27 leitos de UTI e 27 clínicos reservados à pediatria. Na tarde desta quarta-feira, estavam ocupados 20 e 16, respectivamente, o que leva a taxa de ocupação para 74% nas UTIs e 59% nas enfermarias. A SMS foi procurada pelo CORREIO para dizer das ações voltadas ao combate direto da Covid em crianças e adolescentes, mas não respondeu às questões até o fechamento desta edição.

Sobre o assunto, o prefeito ACM demonstrou preocupação e afirmou estar avaliando com  sua equipe as razões do aumento para decidir que medidas serão tomadas daqui para frente em Salvador. “Todo movimento de aumento de casos representa um alerta para a prefeitura. Houve esse movimento que nos chamou a atenção e vamos aguardar pra ver se o aumento é momentâneo ou se é algo permanente. Mas é claro que tudo isso tem influência direta nas conversas para o retorno às aulas”, declarou.

Para acontecer, a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica precisa estar associada a um quadro anterior de infecção pelo novo coronavírus. “Existe um desequilíbrio entre a resposta imune e a inflamação do corpo, é como se ficasse desenfreada essa resposta imune. Até então, para a síndrome ocorrer, um dos critérios é a infecção prévia pela covid-19”, explica Anne Galastri, infectopediatra do Departamento de Infectologia Pediátrica da Sociedade Baiana de Pediatria.

Pós-covid
A especialista detalha, ainda, que nos casos da SIMP o paciente chega a apresentar melhora do quadro comum da covid para só depois surgirem sintomas da síndrome,  como febre alta e persistente, lesões pelo corpo, conjuntivite, edemas, podendo evoluir para taquicardia e até inflamações no coração ou questões renais. “De um modo geral, são dias de sintomas em uma piora que é progressiva e de forma mais geral. Não é súbito”, explica a médica.

Anne Galastri chama atenção também o aumento no número de casos era algo esperado: “As notificações para essa síndrome só passaram a ser obrigatórias em  agosto. Então, já era esperado que o número crescesse. Apesar da notificação obrigatória pelo Ministério da Saúde ter ocorrido apenas em agosto, a pasta nacional já chama atenção para o assunto desde maio”.

Em 20 de maio, o Ministério da Saúde emitiu um alerta, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), com o objetivo de chamar a atenção da comunidade pediátrica para a identificação precoce da SIM-P no país e orientar quanto ao manejo clínico dos casos.

Pais  precisam prestar  atenção nos sintomas
Os pais de crianças e adolescentes devem se atentar a mudanças no comportamento dos filhos para que estes sejam tratados rapidamente. A médica Anne Galastri recomenda que os responsáveis mantenham  contato direto com o pediatra que acompanha seu filho e sempre prestem atenção nos sinais de gravidade.

“Entre os sintomas para a ida ao hospital estão  dificuldade para respirar,  prostração,  ocorrência de convulsão,  desidratação e grandes períodos sem se alimentar ou urinar”, aponta. Em caso de não tratamento ou atenção incorreta, a doença pode evoluir para o óbito. “O paciente precisa receber medicações para bloquear essas inflamações no corpo todo. Existem tratamentos com imunoglobulina, anticoagulante, corticoterapia, por exemplo. É importante que a criança seja atendida em um hospital capaz de dar  suporte necessário para o caso,  com a disponibilidade de um UTI. Muitas vezes, ocorre alteração em vários órgãos, o que faz ser necessária a intubação”, completa.

A síndrome foi relatada pela primeira vez em Londres, onde os profissionais de saúde notaram  aumento nos quadros de Síndrome de Kawasaki com correlação com a infecção pelo coronavírus. Para que o paciente entre nos parâmetros da nova síndrome é preciso, segundo os critérios do Ministério da Saúde, que  esteja na faixa etária entre 0 e 19 anos e, esteja internado com a presença de febre elevada, de, no mínimo, 38ºC, e persistente a partir de três dias.

A criança e o adolescente com suspeita da doença ainda tem que apresentar, pelo menos, dois dos seguintes sintomas: conjuntivite não purulenta, erupção cutânea bilateral ou sinais de inflamação mucocutânea; hipotensão arterial ou choque; disfunção miocárdica, pericardite, valvulite ou anormalidades coronárias; evidência de coagulopatia; manifestações gastrointestinais agudas, como vômito, diarreia ou dor abdominal.

Para caracterizar o quadro da SMIP, ainda deve ser analisada a existência de marcadores de inflamação elevados. A criança deve ter teste positivo para o coronavírus ou históricos de contatos com contaminados. Também deve ser afastado o diagnóstico de outras causas de origem infecciosas que geram inflamação.


Deixe seu comentário