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O resgate cultural de Helvécia, uma Comunidade Quilombola do extremo Sul da Bahia

19/06/2015 - 07h25Por:

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Helvécia, uma Associação Quilombola, tem cerca de 4 mil habitantes e 80% dessa população é negra e com uma rica herança cultural que ficou adormecida devido ao isolamento da comunidade. As festas de São Sebastião, no mês de janeiro e a de Nossa Senhora da Piedade, em setembro, são os dois maiores festejos da comunidade. Esses eventos chegam a reunir mais de 10 mil pessoas.

Helvécia é “uma ilha cercada de eucalipto” e, como forma de “compensação” a Fibria trouxe o coreógrafo Ciro Barcelos para ajudá-los no resgate de suas manifestações culturais. Ele se apaixonou pela comunidade e acabou fixando residência por algum tempo, com o firme compromisso de resgatar as raízes daquele povo. Deixou de ser um trabalho e passou a ser uma paixão.

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Ciro conversou com antigos moradores, vivenciou as manifestações que ainda persistiam, pesquisou aspectos históricos e culturais e conseguiu reunir a comunidade num propósito: resgatar o passado afro e suas manifestações. Criou oficinas de teatro, artesanato, dança e, com ajuda de uma amiga, a artista plástica e figurinista Patrice Rivéra, ministrou oficinas de costura e criou junto com as bordadeiras e costureiras de Helvécia, um figurino especial para cada manifestação.

Tive a oportunidade de conhecer Helvécia, conversar com moradores e perceber a relevância do trabalho do Ciro junto àquele povo. Hoje eles sentem orgulho das suas origens, os jovens assumem suas heranças, e suas manifestações viraram peças de teatro levadas para todo o Brasil. Após o trabalho de Ciro, até as cidades vizinhas que ignoravam a comunidade passaram a estudá-la, visitá-la e compreendê-la. Existem inúmeras monografias, teses, artigos espalhados pelas bibliotecas de Universidades Brasil a fora, resultado de estudos do case de Helvécia.

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Hoje acontece em Helvécia um fenômeno que me encheu de orgulho. Durante as missas um grupo afro participa cantando, dançando e batendo tambores. É fantástico!

Dona Tidinha, uma das senhoras mais engajadas nessas mudanças todas é a responsável pelo resgate da “Dança Bate Barriga”, uma manifestação vinda do tempo da escravidão. O grupo de Capoeira, na administração do Mestre Regis, se apresenta e participa de competições, festas, encontros e divulga a cultura da comunidade levando junto com ele as meninas do “Bate Barriga”.

 A comunidade adquiriu uma concepção cultural mais coesa que as comunidades vizinhas onde aconteceu a miscigenação negro/índio. Observa-se uma maior intimidade com os elementos culturais afro-brasileiros. Como o contato com o homem branco foi somente de poder, apesar do sincretismo religioso e da hibridação cultural, seus hábitos não foram destruídos e os aspectos da cultura africana puderam ser resgatados com maior precisão, prevalecendo o valor histórico como forma de entender e preservar suas tradições.

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Porém, todas essas manifestações são pouco divulgadas pela mídia local e regional. Há um grande interesse financeiro que rege a filtragem do que deve ser publicado ou não. Notícias culturais rendem pouco acesso, desmotivando os profissionais a publicá-las. O valor mercadológico da notícia continua sendo o principal motivador de publicações.

A divulgação do que aconteceu em Helvécia, desse resgate cultural, ocorre de forma mais contundente no meio acadêmico, que incentiva produções voltadas para essa revitalização e resgate cultural de um povo. Seus grupos fazem apresentações em Universidades na Bahia, Rio de Janeiro e Espírito Santo.


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