BR-101 é liberada após mais de 25 horas de protesto indígena em Itamaraju

A BR-101, no trecho entre Itamaraju e Itabela, foi totalmente liberada no final da tarde desta terça-feira, 8 de julho, após mais de 25 horas de bloqueio causado por protestos de indígenas da etnia Pataxó. A manifestação, que começou na manhã de segunda-feira, 7, exigia a soltura do cacique Welington Ribeiro de Oliveira, conhecido como Suruí Pataxó, preso pela Polícia Federal durante uma operação no território indígena de Barra Velha.
A liberação da rodovia foi viabilizada após atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que negociou diretamente com os manifestantes. O desfecho foi pacífico, sem confronto com os indígenas, que aceitaram encerrar o bloqueio após intenso diálogo.
Apesar da reabertura, o tráfego na região ainda apresenta lentidão e longas filas, reflexo do congestionamento de mais de 20 quilômetros formado durante o protesto. Motoristas enfrentam fluxo intenso e devem redobrar a atenção, já que ainda há veículos parados ou em baixa velocidade.
Protesto marcado por tensão

O ato indígena aconteceu próximo ao trevo de acesso ao Parque Nacional do Monte Pascoal e gerou transtornos significativos para quem trafegava pela BR-101. Além dos prejuízos logísticos, um episódio de violência intensificou o clima de tensão. A empresária Elaine Tschaen Schneide, de 40 anos, teve seu caminhão apedrejado e incendiado após tentar ultrapassar o bloqueio.
Ela relatou ter sido agredida e forçada a caminhar até a PRF, além de ter o celular destruído e o rosto marcado com tinta de urucum. O caso foi registrado na polícia como dano e ameaça, e imagens do ataque circularam nas redes sociais. A PRF, no entanto, considerou a manifestação predominantemente pacífica, com exceção desse caso isolado.
Prisão de cacique motivou manifestação
O estopim do protesto foi a prisão do cacique Suruí Pataxó, realizada no dia 2 de julho, sob acusação de porte ilegal de armas. A operação contou com o apoio da Força Nacional e também resultou na apreensão de dois adolescentes. A detenção gerou críticas de lideranças indígenas e organizações como a Apoinme e o Conselho de Caciques, que classificaram a ação como uma tentativa de criminalização da luta por direitos territoriais.
As entidades ainda denunciaram que os detidos teriam sido submetidos a maus-tratos e tortura psicológica durante o traslado até a delegacia.
Clima ainda é de alerta
Mesmo com a liberação da rodovia, a situação na região ainda inspira atenção. O Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou que a atuação da Força Nacional segue protocolos de direitos humanos e que os agentes permanecem em Porto Seguro desde abril, diante de tensões recorrentes entre indígenas e produtores rurais.
Ainda não há confirmação se novas mobilizações ocorrerão nos próximos dias, mas o episódio evidenciou a instabilidade e os conflitos que persistem no extremo sul da Bahia.