Investigação

Veja fatos inusitados que aconteceram em presídio durante gestão de ex-diretora afastada

05/07/2025 - 17h30Por: G1 BA

Alguns detentos do Conjunto Penal de Eunápolis, na Bahia, tiveram refeições especiais com moquecas de camarão e lasanhas e uma comemoração do Dia da Consciência Negra com direito a distribuição de acarajés e roda de capoeira. Um dos presos também “velou” o corpo da avó dentro da unidade.

Esses momentos estão na denúncia oferecida pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) à Justiça em março deste ano. Os casos aconteceram durante a gestão da ex-diretora Joneuma Silva Neres, presa em janeiro deste ano, suspeita de facilitar a fuga de 16 presos, em dezembro de 2024.

De acordo com o documento em que a TV Bahia teve acesso com exclusividade, entre as autorizações inusitadas dadas por Joneuma aos detentos, chamou a atenção a entrada de um caixão e um corpo no interior do Conjunto Penal, para que um dos chefes de um grupo criminoso, “velasse”, dentro do presídio, o cadáver da avó.

Outras regalias citadas no documento estão:

acesso irrestrito aos freezers introduzidos por determinação de Dada, preso foragido apontado como amante de Joneuma;

acessos a refeições especiais como moquecas de camarão, lasanhas e chesters;

equipamentos sonoros e caixas de som;

visitas íntimas dentro dos pavilhões.

Comemoração com acarajé e capoeira

Segundo o documento, um detento, que estava preso no Conjunto Penal há quatro meses, relatou quando foi ouvido pela polícia, que todas as celas estavam abertas no feriado da Consciência Negra.

Durante este momento, de acordo com o depoimento, uma mulher vestida com trajes típicos, na presença de Joneuma, distribuiu acarajés para os detentos. Além disso, outras duas mulheres praticaram uma roda de capoeira, na qual a própria diretora participou, convidando Dadá, para integrar a roda.

O preso contou que ficou impressionado com a coragem da diretora, porque muitos detentos estavam com facões e facas nas cinturas, e que segundo ele, se desejassem, poderiam ter feito Joneuma e as outras mulheres reféns, para facilitar uma fuga em massa.

Quando questionado o motivo disso não ter ocorrido, o preso disse que muito provavelmente já havia um outro combinado e que os preparativos para a fuga que ocorreu no dia 12 de dezembro de 2024 já estava em andamento.

Fuga facilitada por gestores

A ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis, o ex-coordenador de segurança da unidade, Wellington Oliveira Sousa, e o suspeito de chefiar uma facção criminosa na cidade, Ednaldo Pereira de Souza, são apontados pelo Ministério Público da Bahia como responsáveis por planejar a fuga dos detentos.

A operação de fuga tinha o objetivo de livrar Ednaldo, mais conhecido como Dadá, e outros 15 presos do cárcere. Em janeiro, um dos homens morreu em confronto com policiais civis na cidade. Os demais seguem foragidos.

O caso segue sob segredo de Justiça, porém o g1 obteve acesso ao documento na sexta-feira (4).

Além de Joneuma e Wellington, Dadá e os outros fugitivos também foram denunciados. A ex-diretora e o ex-coordenador estão presos em diferentes unidades prisionais no sul e extremo sul do estado.

Entenda a operação de fuga

Segundo as investigações, além de colocar todos os aliados de Dadá na mesma cela, dias antes da fuga, a ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis e o subordinado, Wellington, colaboraram de outras formas para o sucesso do plano.

Entre as ações, está o fato de Joneuma e Wellington terem “elevado o status” de mais de 12 integrantes da facção, que estavam presos, como meio de facilitar as fases da fuga. Com isso, atribuíram aos escolhidos o posto de “correrias”, o que na linguagem do sistema carcerário significa que esses detentos têm liberdade de circulação na unidade prisional e atuam como intermediadores das reivindicações dos internos.

Conforme os depoimentos, os detentos chegavam a ficar com chaves de várias celas e de alas específicas do Conjunto Penal para serem mantidos na missão de “leva e traz”.

Ainda conforme o documento, o grupo passou a introduzir vários equipamentos ilícitos na unidade, como celulares, facas e até uma furadeira à bateria, que foi utilizada para fazer o buraco no teto usado pelos homens para fugir.

Para entrar com os materiais no presídio, o grupo contava com o auxílio externo de outros comparsas, que, segundo o MP-BA, se passavam como visitantes.

Em determinado momento, durante reformas no presídio, esses instrumentos ilícitos teriam sido transportados, em baldes, pelos próprios presos, na presença de Joneuma e de Wellington. O MP-BA aponta ainda que os membros do grupo também circulavam no presídio armados com facas e facões.

O Conjunto Penal de Eunápolis fica em uma área afastada do centro da cidade, no bairro Juca Rosa. A fuga contou com quatro veículos do tipo SUV e oito homens portando armas de grosso calibre.